Banheiro
O templo sagrado da humanidade é o banheiro. Esperamos ali a sós, percebendo a fragilidade da carne, olhando o espelho que nos confronta com o outro ser que nos olha, pasmo, atrás do vidro e nos mostra a realidade de uma anatomia que sente, mais do que supúnhamos, a passagem do tempo.
Ali permanecemos às vezes quietos e pelas paredes, em silêncio, reverberam memórias, alguns sonhos, uma gota de água estala musicalmente em algum canto e acordamos de repente no meio de uma função qualquer, extremante física.
Ali testamos, meio sem graça, algumas posturas a serem talvez usadas a posteriori, mas não, não funcionou.
Ali descobrimos recantos do corpo ainda não mapeados, testamos as juntas, joelhos, juventudes idas nos tocaram como desconhecidos e em silencio, até que a água de um chuveiro nos absolva e, talvez, cantemos alegres porque sentimos vivos.
Acredito piamente que a água de uma pia é um bálsamo e que o brilho nos ladrilhos, latrinas e canos dissipam o engano, o humano engano.
Todos aqueles que saem de um banheiro são, em proporção direta com o tempo em que lá estiveram e ainda que minimamente, seres humanos melhores.
GUGA ACHULTZE
11/01/2007
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Alberto